quinta-feira, 25 de setembro de 2014

MANIFESTAÇÕES DE UMA CULTURA PRÓXIMA: SOCIEDADE, COTIDIANO E A ERA DIGITAL

MANIFESTAÇÕES DE UMA CULTURA PRÓXIMA: 

SOCIEDADE, COTIDIANO E A ERA DIGITAL


Igor Amin Ataídes*


Sam’gacchadvam’ sam’vadadhvam’

Movam-se juntos todos, irradiem um só pensamento

Pensamento milenar Yogui


INTRO, quando acordo.


Há uns 10 anos troquei meu despertador barato pelo antigo celular da minha mãe, deixando a tarefa para ele. Agora utilizo a função “acordar” presente em meu notebook, que me faz pensar: será que eu consigo levantar sem essas tecnologias me cutucando na cama? O que mais me chama atenção nesses dispositivos tecnológicos é o fato de os utilizarmos mais para outras coisas do que para a função principal para a qual foram desenvolvidos. Explico: meu celular durante 10 anos foi reinventado para me acordar, e não para conversar com outras pessoas. 


Este ensaio pretende lançar anotações acerca da relação entre algumas palavras-chave, ou se preferirem, tags como Manifestação Cultural; Cultura Digital; Cotidiano e Sujeito, ou nós no meio disso tudo. Irei me aventurar pela cultura, não só por atuar na área como artista multimídia, gestor cultural ou público, mas por fazer parte dela desde que nasci. 


Todo ser, ao meu ver, é um ser cultural desde a barriga da mãe. Ali se inicia o contato com a cultura, complexo de padrões comportamentais trocados coletivamente, como nos apresentam as definições dos dicionários. Eles também nos dizem que a cultura é um conjunto de conhecimentos adquiridos em um determinado campo, ou território. Esse território pode ser a barriga da mãe, a sociedade, sua casa, a escola, as praças públicas e tudo que se configura entre espaço e tempo.


Assim, uma cultura se manifesta em um território, espécie de palco onde atores ensaiam uma peça teatral chamada cotidiano. O cotidiano se dá pelas experiências vividas neste palco, configuradas pelas ações individuais e diálogos coletivos. Para uma “troca” existir, é necessário uma mediação que pode ser cara a cara ou através de uma mídia, como o telefone celular, aquele que eu usava como despertador. Está, dessa maneira, lançada a problemática deste ensaio: como as manifestações culturais possibilitam a reinvenção e transformação do cotidiano em plena era digital?


A MOBILIDADE DA CULTURA, pela manhã.


Logo pela manhã, no dia 13 de novembro de 2005 às 07:17, fiz a primeira postagem no blog que eu edito: Ciberexpressando... discutindo a socialight digital, eu mesmo, e outros papos. (ciberexpressando.blogspot.com). A audiência deste era – ou é – mínima se formos mensurá-las através do número de pessoas que deixam seus recados. Nas diversas experiências que adquiro por ali, lembro de uma muito interessante: a amizade virtual com Malu, que desde 21 de março de 2007 às 00:04 da noite passou a ser colaboradora do blog. Percebendo que a colaboradora postava conteúdos frequentemente, comecei a ficar atento para aquela mobilização que surgia em meu diário online. 


Oportunidades de criação coletiva apareciam quando seus vídeos me inspiravam a fazer novos vídeos. Mais do que boas ideias, momentos de falta do que fazer, falta do que “googlear” e vontade de conversar com alguém, surgiam diálogos através de postagens sequenciais, ou até feitas ao mesmo tempo. Através de fotos, vídeos, frases soltas, álbuns para download e coisas aleatórias, nos tornávamos grandes amigos.


Estava em curso uma mudança nos modos de comunicação desta mídia informal, que passava agora a criar uma espécie de comunicação mais colaborativa e menos ligada apenas à transmissão de informações. Um ir e vir no tempo e no espaço que gerou um impacto nas formas de me relacionar com outras pessoas. A Cultura Digital só veio alterar minha própria Cultura quando a conheci pessoalmente, além do Blog. Em uma ocasião, senti o impacto disso tudo em minha vida quando me hospedei na casa da Malu, em São Paulo. Ela virou minha guia turística, informativo cultural, cozinheira e ainda me ajudou a economizar com hospedagem. Agora ela mora no México e eu vou ter lugar para ficar lá, compartilhando tudo isso de novo.


É importante perceber nesse exemplo como são mobilizadas as formas de atuação social em rede identificando uma possível relação entre manifestação cultural e cotidiano. Uma reflexão seria como nosso cotidiano passou a se arranjar nestes territórios típicos da Cultura Digital, ou da cultura em redes digitais, como as Mídias Sociais incluindo Blogs, Microblogs (como o Twitter), Redes de Relacionamento (como Facebook e Orkut), Myspace, Games (como o Second life), Broadcast (como o Youtube), entre outros. Formas de comunicação, compartilhadas e colaborativas, que envolvem os sujeitos em torno de situações que revelam, ao meu ver, os modos de articulação das subjetividades e as dinâmicas sociais na contemporaneidade.


Essas novas práticas comunicacionais, desenvolvidas em torno da Internet e de seus desdobramentos, rompem com a lógica da transmissão da informação, típica dos circuitos de comunicação de massa, e desenvolvem, com isso, novos modelos e formas de comunicação estruturadas em torno do que vem sendo conhecido como many-to- many, ou muitos para muitos. O deslocamento que se opera diz respeito a uma ampliação da comunicação one-to-many, ou um para muitos, típica da comunicação de massa, das transmissões broadcasting como no caso das televisões, rádios, jornais entre outros, centradas em um emissor que mobiliza um conjunto amplo e diversificado de receptores distantes no tempo e no espaço.


Podemos refletir sobre os Meios de Comunicação de Massa, ou tradicionais, com o seguinte slogan: “a informação que só dá e não recebe”. Algo um tanto quanto egoísta dessas mídias, em um tempo que todos querem voltar a “trocar”. Surge então a necessidade de todos iniciarem um troca-troca que vá além de um meio de comunicação, mas que ocorra por uma rede de meios de comunicações, no plural. 


Pessoas comuns difundem informações com alto grau de importância, promovendo novos debates para a formação da opinião pública antes mesmo de entrar em pauta nos meios de comunicação de massa como ocorreu com o vídeo (gravado com uma câmera de celular por um xiita) durante a execução do ditador Saddam Hussein, publicado em milhares de blogs ou portais como o Youtube. O interessante é que dizem por aí que um vídeo desses nunca seria exibido em rede aberta de televisão. 


Esse emaranhado de possibilidades geradas pela Cultura Digital nos faz refletir sobre as três ideias de configuração de rede, entre as plantas, entre os minerais, entre os animais e também entre os humanos. Viver em rede é questão chave para um ser cultural, pois a Cultura é uma rede. Assim, temos a configuração de redes centralizadas (um ponto que se distribui para muitos, como opera a transmissão da televisão), redes descentralizadas (um ponto que se distribui para um outro, que distribui entre os próximos) e a rede distribuída, (em que todos os pontos distribuem para todos os pontos). 


Se a sociedade, palco das manifestações culturais, deixou de ser coletiva e passou a ser individual desde a modernidade, podemos pensar que as mídias sociais, provindas da Cultura Digital, estão quebrando padrões e abrindo o caminho para o diálogo social. Tal mobilização não é apenas um ato de expressão do indivíduo sobre o coletivo, mas também formas alternativas de configuração de novos hábitos para viver a vida no mundo que presenciamos: muita informação e pouco diálogo. 


VIVER A VIDA INSTANTANEAMENTE, durante a tarde. 


Com o consumo de mídias cada vez mais presentes em nossas vidas, passamos a experimentar outras formas de interação. Vale ressaltar que essas novas formas de interatividade comunicacional não necessitam do compartilhamento entre espaço e tempo. Podemos relacionar tal fato às novas formas de interatividade que surgem através da hibridização, como nas redes sociais da internet. Surge assim uma forma de tensão que afeta as relações interpessoais devido à desvinculação espaço-temporal propiciada pelos meios digitais, ou seja, uma substituição da co-presença pela tele-presença. Este fato merece destaque pelo grau de tensão que cria com as noções de proximidade e afastamento. As relações sociais em rede não dissolvem a noção de lugar, mas sim retrabalham as formas de se experimentar o espaço e o tempo. Assim, nosso cotidiano vem sendo reinventado e transformado através das manifestações que a cultura desenvolve nessas novas mídias.


É importante perceber que as transformações ocorridas se dão graças ao intenso uso e apropriação das tecnologias pelas articulações da vida social, ou seja, uma seqüência de agenciamentos sóciotécnicos que possibilitaram uma nova situação comunicacional. 


As redes digitais reúnem vários meios de acesso ao conteúdo, desvendando através de inúmeros agenciamentos em diversas modalidades comunicativas, novas formas de exposição das subjetividades, criação de narrativas e outras tensões em torno dos poderes globais gerados pela comunicação de massa. Passamos a ter uma multiplicidade de pontos de vista que se relacionam intensamente com os ambientes e manifestações da comunicação de massa em um intrincado e complexo jogo.


A construção deste jogo complexo nos leva a fazer uma releitura do dito popular “caiu na rede é peixe”, já que os rumores e balbucios dessas muitas vozes que compõem a Cultura Digital são espalhados ou expostos em novos territórios como nas redes sociais. Estas surgem como uma alternativa para o cotidiano dos indivíduos, onde uma foto tomando um café sozinho postada no Facebook pode suprir a falta de tempo para um café com seu melhor amigo. Com isso, somos capazes de idealizar, executar e disponibilizar idéias de forma simples através desses desenvolvimentos tecnológicos presentes nas redes. Vale ressaltar que estes territórios sobrevivem através de freqüentes movimentações numa espécie de mutação ou desdobramento provindo de dinâmicas entre o campo tecnológico e a vida social.


No contexto do dito popular citado, podemos também pensar na WEB 2.0. Um fenômeno presente às novas formas de atuação do sujeito no ciberespaço, utilizando a amplitude que a rede nos proporciona para a difusão de idéias, compartilhamento de sentimentos, exposição dos pensamentos comuns e formas de demonstração das subjetividades que leva o sujeito a uma nova forma de rede social referente à natureza dos agenciamentos sóciotécnicos. Esse emaranhado de agenciamentos, ou ainda, jogos intrínsecos entre sujeito e seus instrumentos tecnológicos, reconfiguram uma nova ordem nas relações: de receptores agora nos desdobramos em interatores.


Esse desdobramento passa a ser algo fundamental para a contemporaneidade, devido ao resgate do diálogo social por um conjunto de afinidades, caracteres, hábitos e afins, indo além das interações puramente tecnológicas. A importância dessa cultura sóciotécnica está no “empoderamento” dos receptores, que se sentem super heróis em cena atuando naquela mesma peça teatral chamada cotidiano. Diferente do que muitos pensam com relação a interatividade (um exemplo cômico como “ agora vou poder escolher a programação dos canais da minha TV por assinatura”), o que surge é a ação interrelacional, provocada pelos inter-atores. Os interatores, ou nós, podemos viver aqui, lá e agora não só trocando informações, mas sim cooperando processos de idealização, produção e difusão de conteúdos sobre qualquer coisa que reinvente nosso cotidiano.


Assim, a reinvenções do cotidiano nas redes sociais se dão pelas experiências que deixam de ser apenas subjetivas, mas passam a se tornar objetivas. Uma espécie de objetivação das subjetividades. Muitas vezes tínhamos ideias, mas nunca saiam do papel, agora elas são impressas nas telas de muitos para muitos, onde o caráter de relacionamento é o que mais pega nesse vai e vem comunicacional. Isso é fantástico se percebemos que é a primeira vez que podemos criar conteúdos da nossa forma, para e com as mídias, onde muitos poderão ter acesso, dialogar e colaborar com tal conteúdo, seja informacional, de livre expressão, artístico, caseiro ou institucional. Por isso, podemos dizer que a arquitetura dessas redes de relacionamento nos interessam mais do que pensar como funciona a bolsa de valores, um fator chave que sacode o império das instituições e as fazem dormir pensando nisso.


DO IT TOGETHER, a noite será longa.


Na calada da noite, a cultura começa a se reinventar a partir do impacto das manifestações do sujeito em busca de maior diálogo em seu cotidiano, o “digital” vem contribuindo pelas margens no surgimento de um novo paradigma. O Do it yourself (faça você mesmo) sai da pista, pois a cultura se manifesta por uma sociedade empática, de abundância, diversidade e possibilidades, descartando o sistema de escassez político, social, cultural e por aí vai. O selo de qualidade agora é o carimbo Do it Together, ou a era da cooperação. Um movimento que parte do social, tal qual as tecnologias são apenas instrumentos de alavanque para este processo em busca do resgate às relações interpessoais. 


O desdobramento viral disso tudo nos chama atenção quando aspectos da cultura extrapolam seu próprio ambiente, gerando conexões com dois campos essências de transformação paradigmática: a Economia e a Educação. O diálogo da cultura com a própria cultura possibilita, então, na emergência de uma economia paralela, a existência da criatividade presente no cotidiano como um método para desenvolvimento de novos modelos e processos baseado na sustentabilidade e na cooperação. 


Nota-se que a educação formal, ou mais, os sujeitos envolvidos nesta, necessitam de novas formas didáticas para construção de metodologias de ensino, sendo as artes e as novas tecnologias ferramentas em alto potencial para este fim. Pode-se utilizar o audiovisual para dar aulas sobre as mais variadas disciplinas, refletir sobre questões éticas e sociais, e muito mais. Celulares e a Internet são ferramentas multidisciplinares, ricas para pesquisa e captura de informações úteis no dia-a-dia da escola. Assim, a aprendizagem em rede se destaca em meio a esta crise das instituições. Se os jovens passam mais tempo em lan houses do que na escola, por que não transformar aqueles espaços em locais de aprendizagem em rede? 


UNTO, hora de sonhar.


O que não pode ser feito é inventar a roda de novo e para isso deve-se refletir sobre o “por que” disso tudo. A meu ver, a humanidade cansou de criar diversos mundos, de gerar processos individuais sem troca, sem aprendizagem coletiva. Agora queremos cocriar um só mundo, baseado na empatia e na interdependência, num movimento conjunto para o todo. 


Empatia não quer dizer apenas ter afinidade por tudo e todos, mas sim, colocar-se à disposição de sentir o que o outro sentiria em uma mesma situação. Desenvolver a escuta para compreensão, onde mesmo que eu não concorde com seu ideal, respeito-o. E por fim, a Interdependência, o verdadeiro sentido de uma cultura em rede, aquela que não é dependente e nem independente, mas sim interativa e relacionada a essas duas naturezas. Eu me movo em cooperação com o todo para gerar, de forma sistêmica, um novo mundo.


* Confira ainda o texto “Mídia de Massas x Mídia de Missas (ou pequeno manifesto de um pequeno grupo de criação de pequenos conteúdos artísticos no séc. XXI)”, escrito por Vinicius Cabral, colaborador da 2ª edição da Revista Eletrônica Diadorim Cultural. 

Acesse www.diadorimcultural.blogspot.com 

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Mídia de Massas x Mídia de Missas (ou pequeno manifesto de um pequeno grupo de criação de pequenos conteúdos artísticos no séc. XXI)

* Este texto é uma colaboração de Vinicius Cabral para 2ª edição da Revista Eletrônica Diadorim Cultural.

Vinicius Cabral é publicitário, produtor independente e curador. É diretor de mais de 10 vídeos autorais e criador de uma série em processo cujo tema são as novas possibilidades semiológicas da imagem digital (www.nemsooqueandaemovel.com). Foi premiado na categoria ousadia e risco com seu curta Vídeo Terrorismo no FLÔ 2007 - Festival do Livre Olhar. É sóciodiretor da A Produtora Audiovisual, responsável pela direção de conteúdos audiovisuais.

Mídia de Massas x Mídia de Missas (ou pequeno manifesto de um pequeno grupo de criação de pequenos conteúdos artísticos no séc. XXI)

1) Como diria Groucho Marx (em frase erroneamente atribuída a Woody Allen): “Não entro para um clube que me aceite como sócio”. Seguindo este raciocínio, até entre em redes sociais que aceitem seu perfil. Só não as leve a sério;

2) As Redes Sociais não giram em torno da pura e simples “conexão” entre pessoas. Quem faz conexão é avião. Seres humanos estão em busca de aceitação. Se você gosta de cantar Celine Dion no chuveiro, muito provavelmente se sentiria melhor sabendo que existem mais pessoas que gostam de fazer isso. Geração de empatia é um conceito mais apropriado para entender esses ET`s que são as Redes Sociais (e também os ET`s que cantam Celine Dion no chuveiro);

3) Se você tem uma empresa ou é um artista em vias de se promover, não utilize a Web 2.0 com a finalidade exclusivamente institucional. Isso enche o saco das pessoas. Lembra-se da geração de empatia? Quanto mais o seu produto/obra for humanizado, incorporando interesses, anseios e predileções das pessoas por trás deles, mais você irá conquistar mini-segmentos de interesses específicos. Quem sabe esses mini-segmentos possam validar os interesses do seu produto/obra e difundi-los em outros mini-segmentos, até garantir alguma empatia distribuída entre grupos perfeitamente heterogêneos?

4) Não acredite naquela última publicação respeitadíssima que estampa na capa as “100 verdades nunca antes ditas sobre Novas Mídias que podem fazer você `bombar` na internet”. As coisas “bombam” na internet basicamente por 3 motivos:
a) Sorte;
b) Sites de Script hackers ilegais que literalmente fabricam seguidores ou views;
c) Comoção Coletiva (muito raro);
Ou seja, ou você gera empatia, ou vai ficar estagnado nas mídias sociais. A maior chance que você tem de “bombar” é conseguir atingir mini-grupos simpatizantes que possam propagar espontaneamente o seu conteúdo para outros grupos. É isso que chamam por aí de viral. Ou seja, basicamente algo que não pode ser planejado por uma empresa ou agência de publicidade e marketing digital;

5) Não acredite na balela excessivamente repetida que afirma que todo mundo hoje em dia pode criar o seu próprio conteúdo informacional ou artístico. Na verdade, todo mundo pode (as ferramentas estão aí para isso) mas a classe intelectual, o mercado e as mídias tradicionais fazem questão de eleger a produção das “pessoas comuns”, sem o suposto domínio técnico, como a opinião do público, ou do espectador. A grande virada de mesa será quando esta chamada opinião do público (ou espectador) for encarada como uma legítima produção de conteúdo, e não apenas como interação promovida por um veículo oficial. Se um determinado canal de TV está pedindo para você mandar os vídeos que você fez para um programa chamado “os vídeos que você fez”, ou algo do tipo, isso é um exemplo daquilo que estamos afirmando. O seu conteúdo continuará sendo visto como “amador”. Ou seja, suas idéias podem até ser boas, mas não possuem a devida lapidação técnica ou conceitual. Essa é a grande balela! O seu conteúdo pode ser tão ou mais interessante (e em todos os sentidos) do que o último quadro desastroso daquele programa imbecil de TV que eles inventaram no desespero pra subir audiência. (Alguém aí já conseguiu rir de alguma coisa no Zorra Total?);

6) Uma criança de 11 anos possui uma visão mais intuitiva e natural de edição de vídeo, por exemplo, do que um profissional com muitos anos de experiência em audiovisual. Não que o profissional com muitos anos de experiência em audiovisual seja um imbecil, ou que a criança de 11 anos em questão seja um gênio. Isso se explica pelo simples fato que a criança já consumiu em 11 anos de vida mais imagens do que o profissional com muitos anos de experiência sonharia em consumir quando ele tinha 11 anos. É a lógica da repetição. De tanto ver, você passa a “despejar” naturalmente uma narrativa estruturada;

7) Sobre tudo isso Walter Benjamin já dizia, nos idos da década de 30 do século passado que, diante de uma democratização dos meios de produção, as elites respondem com conservadorismo. É a era da arte com “A” maiúsculo. Hoje em dia, como já citamos, as classes intelectuais e econômicas que ditam as regras das linguagens e conteúdos que serão veiculados, consumidos e apreciados não têm mais pra onde correr. Ou aceitam aprender com crianças de 11 anos, ou serão engolidas;

8) A internet e as mídias sociais não vieram para falir as mídias tradicionais. Vieram para modificá-las. Em pleno ano de 2010 há pessoas que ouvem rádio, vêem TV, e existem até aqueles que (pasmem!) compram discos em vinil e lêem jornal! O que irá mudar, e já muda numa velocidade impressionante, é a consciência das pessoas em relação ao conteúdo das citadas mídias convencionais (esperançosamente, o conteúdo delas terá que se adaptar e abraçar uma espécie de informalidade para continuar sendo interessante). Partindo do princípio que um jovem busca identificação e aceitação na sua rede, e por isso consome conteúdos muito mais intimistas, afetivos e, porque não dizer, realistas, na internet, se ele for ao cinema assistir um filme de espetáculo hollywwoodiano cheio de malabarismo 3D, ele saberá, cada vez mais, que aquilo se trata de uma banalização irreal e infame (independente de sua formação critico-intelectual). Se isso significa uma perda de audiência até agora muito insignificante para “quebrar” o cinema como uma mídia lucrativa, por outro lado significa que o cinema não recuperará essa audiência perdida a menos que mude um pouco os conteúdos. Para os que continuam se satisfazendo com os malabarismos, o cinema está aí, e nunca deixará de estar...

9) A coexistência de todas as mídias, inclusive as adeptas do malabarismo estético, como o cinema, é um fato muito apoiado na hipersegmentação da comunicação em nossos tempos. O grupo das pessoas que cantam Celine Dion no chuveiro talvez goste de comédias românticas com galãs de Hollywood, assim como adolescentes que ouvem bandas dinamarquesas de Black Metal talvez gostem de filmes de terror japoneses da década de 60. Existem gavetas, denominações e mercados para milhões de interesses variados. A internet e, por fim, as mídias sociais, são espaços que dividem, ao mesmo tempo que aproximam, esses diversos hipersegmentos.

10) Esse texto não se trata de mais um manual para sobrevivência nos tempos de internet, mas sim de uma reflexão critica sobre mudanças sócio-culturais irreversíveis. É o embate “Mídia de Massas x Mídia de Missas”. Ou seja, os meios tradicionais de consumo e veiculação de informação, arte e cultura em choque com novas formas de veiculação de conteúdos similares, numa proporção reduzida e propagada de pequenos grupos para pequenos grupos (ou, se preferir, de pequenas religiões para pequenas religiões, numa verdadeira rede de micro-missas);

Amén,
Novembro de 2010, Brasil, Mundo

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Palestra: Espaço público e manifestações culturais: nossas ruas são lugares do pleno habitar?

Estação Pátio Savassi apresenta
Espaço público e manifestações culturais: nossas ruas são lugares do pleno habitar?
Eduardo França
Local: Pátio Savassi – Av. do Contorno, 6061 Savassi – Belo Horizonte – MG
Data: 20/02/2009
Horário: 11:00
Duração: 2h
Valor: Entrada Franca
Situação: Aberto
Síntese
Contemporaneidade é a palavra-chave de discussões no Estação Pátio Savassi de 2010. A influência da cultura e das humanidades na atual sociedade será foco no ciclo de palestras gratuitas que recomeça no sábado, dia 06 de fevereiro, no anfiteatro do Pátio Savassi (Piso L2). O tema do mês “Você habita sua cidade?” será dedicado às mudanças dos espaços em que vivemos e como lidamos com isso. A idéia é investigar algumas novas formas de habitar e construir a cidade, além de refletir sobre as possibilidades de nos inventarmos nesse ambiente.
No dia 20 (sábado), a partir das 11h, no anfiteatro (L2) do Pátio Savassi (Av. do Contorno, 6061 Savassi), o Mestre em Arquitetura e Urbanismo, Eduardo França, ministra a palestra “Espaços públicos e manifestações culturais: nossas ruas são lugares do pleno habitar?”. O evento é gratuito e aberto ao público.
Para inscrições e mais informações consulte:
Por telefone: (31) 2551-7663
E-mail: contato@estacaodosaber.art.br
Horário de atendimento: 9h às 19h
www.estacaodosaber.art.br

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

REVISTA ELETRÔNICA DIADORIM CULTURAL

Sociedade - Arte - Vida | Arquitetura - Cultura – Sertão | Rede – Diadorim – Veredas - Mar | Minas – Montanha - Sabrasil – Sabiá


A revista pretende discutir arquitetura, turismo, comunicação e sociedade sob o ponto de vista da cultura. O objetivo é criar diálogos e convergências entre áreas de conhecimento afim de discutir a cultura e suas modificações no território. O foco é a produção cultural e os espaços culturais, que de certa forma influenciam o território.

O Diadorim Cultural é um projeto que mescla Arquitetura, Comunicação, Turismo e Cultura. Uma iniciativa do Escritório Estudio 1011 Arquitetura e Urbanismo.

Para maiores informações, mande um e-mail para nós.